sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Parar

Ontem parei. Parei para os olhar. Para os ouvir respirar. Somente. As minhas semanas têm passado entre correrias loucas, numa tentativa de fazer tudo o que fazia e mais ainda o que hoje faço. Não é nada fácil. Felizmente tenho muito trabalho e está a correr bem. E os miúdos estão a crescer e é preciso acompanhar ainda mais os mais crescidos. A primária é exigente e se nós não exigirmos deles bons resultados agora pode ser-lhes difícil acompanhar o barco nos anos seguintes. Mas para isso é preciso tempo para estudar com eles, todos os dias. E todos os dias tenho estudado com ela. O inverno trás mais complicações a este equilíbrio de copos de cristal: mais trânsito, mais tempo para chegar a casa, dias pequenos, mais sono à noite, mais frio, menos tempo. Esta minha primeira semana de Dezembro foi ainda mais difícil. Tão difícil. Todos os dias a chegar tarde: umas vezes por mim, outras pelas actividades deles após a escola: natação, futebol, ginástica. Todos os dias a jantar pelas nove da noite, o que para crianças de quatro e cinco anos é deveras complicado. Sobretudo porque não dorme à tarde. Mas ninguém disse que ter três filhos e passar 12 horas fora de casa era fácil. Nunca ninguém disse que a vida era fácil. Ontem limitei-me a levantar a mesa do jantar e a ficar com eles só a ficar com eles. A olhar para eles. Não liguei o computador nem respondi a e-mails. Há dias em que é preciso parar. Ontem parei. Tenho um medo terrível de “acordar” e vê-los adultos, com as vidas próprias e preenchidas. Quero os meus filhos crianças como são. Com o trabalho todo que dão. Quero viver o aqui e o agora e isso só é possível se de quando em vez desligarmos e ficarmos ali, só a usufruir desta altura extraordinária da vida. Às vezes só é preciso isto: parar.

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