quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Simone


Falhei o lançamento oficial do livro, marcado na minha agenda desde o inicio, mas a Matéria-prima teve a amabilidade de me enviar o livro para casa para eu ler. Assim que o agarrei na minha caixa de correio peguei nele com aquela fúria típica de quem está pronto a devorar alguma coisa que há muito deseja. Gosto da Simone de Oliveira desde que me conheço. Muito provavelmente por influência da minha mãe que sempre que a via na televisão dizia qualquer coisa como “esta senhora tem uma classe…” E é também assim como eu a vejo, uma senhora do mais elegante que pode haver, mas que transmite uma segurança, uma força, uma garra, como não há paralelo na sociedade portuguesa. É para mim uma referência e também eu fico colada ao pequeno ecrã sempre que é convidada para algum programa. Gosto de a ouvir falar. Gosto tanto. Mas ainda gostei mais de a ler. Aqui. Nunca tive a sorte de a entrevistar. Aliás, acho que se me calhasse uma nobre tarefa como essa, bloqueava e não saberia o que lhe perguntar. A jornalista Patrícia Reis esteve em casa da Simone a fazer este belo trabalho. Foram horas de conversa, e escreve-o de tal maneira bem que nos esquecemos que está ali a escrita da jornalista, que o que aqui está resulta da “simples” função de perguntar e escutar. Conseguimos ouvir a Simone, com os seus vários tons de voz. Consegue-se cheirar o fumo do cigarro, ver as suas mãos sempre prontas a puxar-nos a atenção. Vemos o seu sobrolho levantado a até o seu sorriso quando o faz… e faz tão bem. “Simone Força de Viver” é por assim dizer uma biografia em discurso directo. Mas uma biografia inacabada, porque todos contamos e sabemos que a Simone muito mais tem para nos ensinar. É uma mulher enorme com 75 anos de facto vividos: com gritos de alegria e gritos de tristeza, mas sangue vivo a correr pelas veias, sentimentos genuínos, olhares de tal forma verdadeiros que também lhe trouxeram inimizades. E isso é o melhor do seu carácter: sinceridade e transparência. Há muito poucas pessoas assim, e por isso vale mesmo a pena escutá-la neste livro.

Uma última nota para a capa: que fotografia lindíssima esta da Simone e das suas rugas, assumidas, da vida. Maravilhoso.  

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