sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Dois loucos no caos cosmopolita


Não sou conhecedora exímia da obra de Gonçalo M. Tavares, mas do que fui lendo deste que é um dos escritores sensação dos dias de hoje, é que carrega sempre nas suas histórias o peso das frustrações quotidianas e mundanas de quem vive ou sobrevive no meio da multidão ou completamente isolado dos outros. Esta peça que chegou há uma semana ao Teatro da Comuna, de nome simples “Berlim”, não difere muito dessa linha, para nos mostrar o desespero que podia ser o nosso, mas que no caso é de um homem e uma mulher que juntos ou sós percorrem as ruas de Berlim em busca de uma paz de espírito que as suas consciências não deixam encontrar. Ficamos com o dobro do peso quando carregamos as nossas frustrações. E aqui nesta peça, as frustrações tem a forma humana, como se Martha e Markus, as nossas personagens, tivessem duplos, literalmente acoplados a eles. Há alturas que tentam fugir deles, mas a consciência volta sempre e apanha-nos quando menos esperamos. No início da história parece que tudo aquilo podia acontecer numa qualquer cidade e que o nome Berlim tinha sido escolhido ao acaso. Mas ali não há coincidências e tudo o que ali se diz só faz realmente sentido se acontecer na capital alemã. O cenário, metaforicamente um parque infantil, é totalmente cinzento, como sem cor são aquelas vidas que gritam por “Socorro” ou “Vem cá abaixo imediatamente”, para ver se alguém, algures num lá em cima qualquer os pode ajudar. A peça tem música ao vivo, produzida por um só violoncelo e o narrador que à nossa chegada nos manda desligar, ele próprio, os telemóveis, deambula por entre as personagens e vai relatando o que as vozes dos próprios ou das suas consciências não conseguem dizer. A encenação é do grande senhor do teatro português João Mota, que nos mostra aqui um trabalho mais alternativo e sem dúvida menos comercial, e no elenco encontramos os nomes de Alvaro Correia , João Tempera, Mariana Filipa, Judite Dias, Tânia Alves, Marco Paiva , Miguel Sermão, Jorge Andrade e Alexandre Lopes. A peça está em cena até dia 8 de Março, de quarta-feira a sábado, às 21h30, e domingos, às 17 horas. Os bilhetes são de 5 euros.

Nenhum comentário: